sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Queen + Paul Rodgers - Brasil 2008 - Eu fui!

27 de Novembro de 2008

Foi neste dia que realizei um sonho da adolescência. Um sonho que posso dizer que começou muito antes, por volta de 1982, quando aos cinco anos via meus irmãos com um LP de capa esquisita, com 4 quadrados azul, amarelo, verde e vermelho, com 4 figuras estranhas estilizadas, e que tinha uma música onde o cantor dizia: "Love, love, love, love".
Aquilo já me chamava atenção e gostava de ouvir com eles, alguns anos mais tarde, meu irmão tinha uma fita K-7 que continham outras músicas uma delas eu conhecia por "Mamma mia" e outra que eram umas batidas e diziam algo como "Uí, Uí, Rock Yú".
Bom daí acho que deu prá perceber minha influência musical como foi na infância.
Passado esse tempo, 1992 já no colégio aos 15 anos e tendo muito mais contato com música, outros colegas adolescentes que curtiam diversas bandas, Hollywood Rock com Nirvana, Extreme, Rolling Stones, Alice in Chains, etc., eis que surge um filme cuja trilha relança o maior Hit de todos os tempos nas rádios, o filme era "Wayne's World" (que no Brasil chamaram de Quanto mais idiota Melhor, francamente!) e o hit era nada menos que Bohemian Rhapsody, ao ouvir aquela música pensei, peraí, mas essa eu conheço, é a "Mamma mia"... rsrsrsrs
A partir daí quis saber de tudo, a letra da música, tradução, e quem eram os responsáveis por uma música tão intensa e completa como aquela que já me chamava atenção na infância.
Foi assim que descobri o Queen e nunca mais parei. Então, à partir daquele ano, minha lista de presentes e compras incluiam álbuns do Queen, e como não tinha CD queria tudo em vinil mesmo.
Foi assim que ganhei o The Miracle, Greatest Hits I, Greatest Hits II, Live at Wembley, Hot Space meio que herdei do meu irmão e alguns singles que ele tinha como Fat Bottomed Girls / Bicycle Race.
Para completar esta história, somente um detalhe importantíssimo que foi quando fiz crescer muito rapidamente minha coleção de vinis do Queen, meu pai sempre cmprava o jornal de classificados Primeiramão, pois trabalha com imóveis, e uma vez, sem compromisso abri o jornal e fui ler a parte de classificados sobre música, e como obra do destino havia um anúncio que dizia mais ou menos assim:

"Vendo coleção de Vinis do Queen
10 Lp's em bom estado - R$60,00"

Não hesitei e liguei imediatamente, para ajudar o fã que estava se desfazendo morava próximo à minha cidade o que facilitou muito a transação. Peguei o ônibus e fui até lá, não me lembro o nome do rapaz, mas posso dizer que foi o primeiro contato que tive com um grande fã do Queen, ele me disse que estava substituindo os vinis por CD's e por isso estava vendendo.
Minha ansiedade foi enorme para chegar em casa e ouvir todos aqueles discos, como se fossem lançamentos da banda, mesmo porque a maioria daquelas músicas eram totalmente desconhecidas por mim.
Passei um dia ouvindo tudo, de cara gostei de algumas e depois fui ouvindo até gostar de quase todas daqueles álbuns (exceto o Flash, que não tem jeito rsrsrs).

Foi assim que conheci e comecei a gostar de Queen.


A viagem

Ao confirmar a vinda do Queen + PR ao Brasil procurei desesperadamente companhia pois queria muito ver o show, porém sozinho era uma possibilidade remota, afinal essas coisas são boas de se compartilhar entre amigos que entendem o esforço, o gasto, a euforia, enfim que têm os mesmos sentimentos que você e compreenda a necessidade de ir à um show desses.
Foi quando ao conversar com o Tonhão, um amigo de Cordeirópolis que conheci em shows do Queen Cover em Limeira, percebi que também tinha o mesmo pensamento e dificuldades que eu, e combinamos por fim que no mínimo nós dois iríamos de qualquer forma, o que acabou acontecendo.
Resolvemos sair mais cedo para passarmos na Galeria do Rock no centro de São Paulo, considerado o templo dos rockeiros do país, e lá fomos, e realmente há muita coisa interessante sobre o rock'n roll, lá se acha de quase tudo, até vinil do novo álbum do Queen+PR (The Cosmos Rock) havia, fora algumas raridades em 45 rotações, etc.
Fizemos um passeio bacana e rumamos para o show, nisso já passava das 14:00h e o show só começaria às 22:00h, haveriam 8h de espera infinda e que no final foram horas extremamente agradáveis.


A fila

Ao chegarmos no Via Funchal algo diferente estava acontecendo, todas aquelas pessoas com camisetas do Queen, como se a banda não tivesse perdido seu mais famoso membro e (talvez mais genial!) há 17 anos, nem parecia que ficaram por mais de 20 anos sem fazer turnês, aquilo era a prova de que quem é "Rainha", nunca perde a majestade!
Fomos para a fila, e lá encontramos típicos fãs do Queen, próximos da gente haviam fãs de Belo Horizonte, Jaú e de São Paulo mesmo, e lá ficamos, conversando, trocando experiências, contando histórias da banda, das expectativas, do show do dia anterior.
Também reencontrei alguns amigos que fiz pela internet e em eventos de fãs como o Queen's Day que acontece anualmente (de 2000 a 2006), enfim era um momento para muita amizade e confraternização.

Ao andar na fila percebi algo que poucos shows podem proporcionar, o encontro de gerações, haviam muitos adolescentes, famílias inteiras, mãe e filha, pai e filho, amigos de longa data que as marcas do tempo teimavam em se manifestar naqueles rostos que outrora, no auge da banda era rostos lisos de adolesentes. Outro ponto forte era o comportamento das pessoas da fila, nenhum incidente, nenhuma briga, um desfile de camisetas começava a acontecer, era raro alguém que não estivesse com uma camiseta que remetia à banda, muitos ali como eu esperavam para ver pela primeira vez parte de seus ídolos, uns poucos esparavam para reviver um pouco de um momento privilegiado que tiveram oportunidade de viver em 1981 no Morumbi ou em 1985 no Rock in Rio.

Olhos no relógio, e as horas pareciam passar mais devagar, porém foram horas muito agradáveis vivenciadas ali na fila.

Um fato inustiado, próximo das 19:00h, o rapaz de BH sugeriu pedir uma pizza pois estava com fome, todos acharam meio estranho pedir uma pizza ali no meio da rua, mas incentivamos a empreitada, o endereço foi bem fácil descobrir, faltava apenas o telefone, foi quando meu Palm com acesso à internet entrou em ação, e numa busca rápida no google encontrei o telefone de ao menos 3 pizzarias naquele bairro. A ligação foi feita de um celular de Belo Horizonte e a entrega foi rápida, tudo bem que quando o motoboy chegou para entregar a pizza e dissemos que a entrega era ali mesmo na fila, ele não deu muita bola e quis entrar no prédio cujo número constava no pedido. Até perceber que realmente a entrega se daria na fila, alguns minutos se passaram. Foi bem cômica a situação, e demos boas risadas.


Abrem-se os portões

Às 20:00h abrem-se os portões, e o frio na barriga aumenta, afinal em 2 horas estaríamos o mais próximo possível de reviver o que já foi o Queen um dia, claro que o novo vocalista gerava muita desconfiança, mas ainda assim sabiamos que os acordes de guitarra e as batidas na bateria eram as mesmas que nos levaram a curtir aquele som característico, ousado e perfeccionista do Queen ao longo dos anos.
Encontramos um local para permanecermos durante o show, ficava há uns 30 metros do palco, vimos o telão, os instrumentos, a bateria com a inscrição Queen, a emoção aumentando, o frio na barriga cada vez maior. Fui percebendo que haviam alguns fãs do Paul Rodgers espalhados pelo show também, claro que numa proporção infinitamente menor quando comparado aos fãs de Queen, mas todos numa convivência bem pacífica e tranquila. Ouvi um comentário próximo que o Paul Rodgers era na opinião de um fã o maior vocalista de todos os tempos, claro que para os fãs de Queen que teve o inigualável Freddie Mercury em seus vocais aquilo soava como uma verdadeira blasfêmia, mas o clima de respeito e alegria que contagiava à todos não permitia nenhuma animosidade, muito pelo contrário, permitia um certo "sincretismo" entre fãs, e foi o que aconteceu ao longo do show.

A casa começava a encher, olhei para as cadeiras e vi crianças com suas famílias, aquilo era a maior demonstração do clima tranquilo que pairava sobre todos. O relógio se aproximava das 22:00h e a expectativa de meses, não, de anos chegava ao fim, estaríamos em poucos minutos diante de ao menos dois dos melhores músicos que o mundo já conheceu.

O show

Às 22:05h o telão se acende, uma chuva de meteoros invade a Terra e soam os primeiros acordes de uma velha conhecida, a Red Special, estavam ali inacreditavelmente diante de nós Brian May e Roger Tatylor, de quebra um velho conhecido das últimas turnês, o quinto elemento Spike Edney nos teclados, que chamava atenção com seus cabelos brancos e um sorriso e uma energia que permaneceu durante todo o show.
Então começava o show, o público explode em uníssono com conhecidas canções Tie Your Mother Down, I Want It All, Hammer to Fall, o êxtase toma conta, claro que aquela voz não era uma voz conhecida, muitos estranharam, mas aquele som, sim aquilo era Queen, não havia como negar, era aquela banda que ouvimos por muitos anos apenas em LP, K-7, CD, VHS e DVD, e lá estavam eles, ao vivo diante de uma legião de fãs.
O show continua, Brian May estava solto, livre, conversava conosco, apresenta o novo "amigo" da banda, "Mr. Paul Rodgers", que foi recebido com muito carinho pelo público, pois todos sabíamos que ele também era responsável pela realização de um sonho possível de ter o Queen novamente no Brasil.
As músicas se sucedeream, Fat Bottomed Girl foi muito bem interpretada pelo Mr. PR, porém as comparações com o Freddie eram inevitáveis, e nesse aspecto soava quase como um cover, na verdade como um tributo ao que foi a banda.
Algumas músicas do Free e Bad Company foram interpretadas e recebida com muita frieza pelo público, definitivamente não era nem de longe a "praia" dos fãs do Queen, estilos muito diferentes, apesar de em All right now, por ser uma música mais conhecida vi que muitos acompanharam ao Mr. PR, mas sem a mesma empolgação com as músicas do Queen.
No solo de guitarra muita emoção ao telão mostrar a imagem do Freedie e sua voz cantando os últimos versos de Bijou, Brian May continua afinadíssimo, demonstrando um vigor ainda maior que das últimas turnês do Queen. No solo de bateria, uma novidade, um grande baixo é tocado com as baquetas de Roger Taylor enquanto sua bateria vai sendo remontada na frente do palco, o Queen continua inovando, vem I'm love with my car e apesar de não ser fã da voz de Roger foi muito bom ouvir essa música ao vivo interpretada pelo próprio Taylor, Radio Ga Ga e A Kind of Magic em sua voz ficaram bem interessantes e 39' com Brian May nos vocais também foi maravihoso, bom prá mim o ponto mais alto so show foi quando Brian e Roger apresentaram-se, apenas os dois como se quisessem dizer: "Ei, o Freddie se foi, mas nós também somos o Queen e estamos aqui, vivos!" naquele momento percebi que com ou sem o PR o Queen deveria continuar, aliás mensagem repetida no refrão da última música do último álbum do Queen com Freddie vivo.
Em Love of my life e Bohemian Rhapsody, novamente muita emoção, quando Brian diz que o Brasil inventou o hit Love of my Life, que até chegarem aqui, era apenas uma balada romântica e no Morumbi em 1981 que ganhou status de Hit, graças ao coro de milhares de pessoas cantando em uníssono essa linda canção, lembrar do Freddie fez a todos se emocionarem, vê-lo ao telão cantando nada menos que a melhor canção do século, talvez da história, Bohemian Rhapsody, foi um momento de saudade, de tristeza e de reconhecimento.
Por fim, Paul Rodgers apesar da inevitável comparação ao interpretar músicas do Queen, o que dá uma enorme desvantagem à ele, teve atuação discreta numa festa em que ele era um ilustre convidado, não comprometeu, saiu do palco quando não era necessário estar e compareceu quando foi chamado, um cara sem estrelismo, na dele enfim mostrou muita humildade e dignidade ao saber ocupar o espaço que lhe foi dado sem comprometer nem se indispor com ninguém, foi uma ótima escolha, mesmo porque não há ninguém que possa imaginar substituir Freddie Mercury. Destaco que se mostrou extremamente competente ao interpretar as belas novas canções que valem a compra do The Cosmos Rock, que são o hit C-lebrity (maravilhosa!), Say It's not True (linda!) e a própria Cosmos Rock (ao vivo é bem empolgante!).

Ao final de 2 horas de show, o êxtase tomava conta daqueles milhares de fãs que saíram de lá de alma lavada, imaginando que apesar de muito caro, o show valeu cada centavo gasto e realizou o sonho de muitos que, como eu, estavam ali para realizá-lo.
Ao final fica aquele gosto de quero mais, torço para que voltem e que seja em breve, mas não posso reclamar, afinal há 4 anos atrás achava que seria impossível viver o que vivi no dia 27 de novembro de 2008. Emoções, imagens e sons que ficarão para sempre guardados na memória.

The show must go on, forever!!!!